domingo, 3 de janeiro de 2021

INTRÉPIDO

Intrépido 


Assim que eu abro o chuveiro. Ela dispara:

“Esqueci a toalha”. Eu olho para a água caindo e tento brincar de entremear-me nas gotas. 

Não quero me importar com isso mas, ela continua com a sua língua solta. 

Entende ser um passarinho desvairado e sem ninho.


“Será que eu devo fazer xixi aqui?” Eu afasto suas palavras dos meus íntimos ouvidos, 

Porque definitivamente, ela não quer me dar ouvido. Ela só quer falar, falar, falar…

E eu nem queria pensar em outra coisa que não fosse, me deliciar!

Poderia deixá-la presa numa gaveta mas eu quero a certeza de tê-la aqui… 


Eu quero o introspectivo silêncio, que certamente me levaria a gratidão pelo amor molhado, 

e sem vaidade me conduziria a um êxtase, diferente e elevado. Eu estou falando de silêncio, 

e por isso queria muito me permanecer emudecido. 

Não quero ouvir ela vir com outros alaridos, confundidos… 


A água está morna, e eu não quero pensar se não no calor suave que me abraça. 

É incrível, ela fala o dia todo e salta por todos os lados, questiona cores, 

ou se vai chover, ou fazer sol, sobre a covid19, a reportagem, o hospital. 

Estamos lotados de acontecimentos falhos no país.


“Esqueça a toalha…esqueça!” Eu poderia também dizer algo sobre o xixi mas, o que eu quero é introduzir-me todo em mim e ficar com ela quieta, me sentindo e sentindo que sou seu dono. 

Agora ela quer entender porque eu não lhe dou atenção. 

Ela parece uma gazela arisca, sempre saltando moitas a procura de novidades.


O Sabonete cai da mão. Dentro de tanto contexto, seria um ótimo pretexto mas, melhor não. “Vai ou não vai apanhar o sabão?” Tem outro sabonete na saboneteira. A água está deliciosa. Eu escorrego minhas mãos sobre o meu corpo, lavo o peito devagar, lavo o ventre, ensaboo os testículos, e continuo a me ater com este enlace do humano com o prazer de viver, nos melhores dos paradoxos. 


 Ele se aquietou um pouco, mas é certeza que…Será certeira.

“Sabe aquela pluma branca que eu posso sentar em cima e ir embora?” Hã? ela não vai fazer isso comigo agora…, estico o braço mas ela, sai, já se foi embora. Como ela adora me atrapalhar, 

até nos meus melhores momentos de intimidade! (Me queixo).


Porque ela é tão mulher assim… Não para um segundo sem divagação. Eu acho ela linda, criativa, tem jeito de menina, de lua, de flores, de luzes e de sol reluzindo na purpurina, é isso que seria, da mulher, a perfeição…Quero trazê-la de volta, se não ela quem me trará outras intercepções…

Porque não se desperta a ficar quieta?


Melhor eu pegar o sabão. O chão está escorregadio. Respiro três vezes olhando o vazio. 

O chiado do chuveiro parece-me o som que alimenta o mantra. 

Fecho os olhos e, por fim, aquieto o pensamento e a minha mente parece até 

Adormecer e um sonho me adentra…


Agora eu já posso amá-la e agradecer: “te amo muito quando consigo receber o seu respeito em também se aquietar”. Venha, vamos nos reunir com os nossos deuses interiores,

Vamos receber a energização, é um momento sagrado, é hora de meditação…

Ah!…depois faremos amor à três ou a quatro…Sorrio ao espelho, antes de sair e ir-me deitar.


ZéReys Santos.

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